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domingo, 4 de novembro de 2018

Esse caminho é imprudente.

Havia luzes demais na loja de conveniência, tantas que meus olhos ardiam pela claridade, eu precisava ficar sozinha por um segundo, para tentar entender tudo o que havia acontecido, mas era noite e o meu medo estúpido não me permitiu. Chocolate não me acalma mais tanto quanto antes, só que eu decidi tentar mesmo assim, era melhor do que ficar com as mãos vazias. Eu esperei durante muito tempo, quase sóbria, tentando juntar os pedaços como um jogo de tetris, mas haviam peças demais, depois eu compreendi. Cada segundo passou como uma eternidade, eu queria chegar em casa e tirar aquele vestido, queria que o cheiro de camomila impregnasse o meu quarto, queria soltar o meu cabelo e esquecer daquela maldita pulseira que o prendia, eu queria entender porque algo que não me envolvia tinha a capacidade de me deixar tão mal. Eu sorri a maior parte da noite, talvez tenha sido um pouco rabugenta e irritante no começo, mas essa sou eu, mimada e cansativa, eu nunca neguei isso. No escuro eu posso ser quem eu quiser, eu posso ser mais bonita, ou mais engraçada ou mais propensa a situações perigosas, mas eu não gosto de me sentir acuada. Tudo o que eu me permiti a fazer até o momento em que eu entrei naquele carro, eu mal pude acreditar. Então quando o motorista começou a conversar comigo sobre a sua família, eu respondi com sorriso na voz, embora as lágrimas  já estivessem se formando nos meus olhos, eu não iria chorar para um desconhecido em um carro escuro - não outra vez. Eu pensei que seria um caminho silencioso e eu fosse conseguir dizer que eu queria o meu anel de volta, mas o álcool ainda estava fazendo efeito, eu apertei todos os botões errados e a frustração tomou conta de mim e eu desisti. Eu precisava trabalhar no dia seguinte, acordar cedo, eu ainda acreditava que iria para o estádio assistir meu time jogar. Eu havia planejado tudo o que eu iria fazer, e em nenhum momento eu cogitei a possibilidade de derrubar vinho na mesa de um bar qualquer, eu ficaria contente com um chá. Mas então eu lembro de um texto que diz que "o universo nunca entrega o que promete", e o que mais eu posso dizer? O caminho de volta para casa foi mais triste do que eu pensei, foi arriscado e perigoso; eu estava protegida pelos meus pensamentos e pelas fotos que me faziam sorrir, nem mesmo a chamada da minha mãe foi capaz de me levar de volta para a realidade. A magia era tão intensa e bonita, triste e trágica. Eu não pude entender naquele momento, mas agora eu entendo. No carro escuro, pensando em dormir, tentando não chorar e não me martirizar, tentando não demonstrar minha fragilidade e agindo como se eu fosse uma garota grande e madura, aquele foi o momento em que eu soube..

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