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quinta-feira, 18 de julho de 2019

i don't weep

enquanto a luz do sol queimava minha pele, eu só conseguia pensar nesse ritmo. como ele é, parece bom apenas na minha cabeça. o vento batia e soprava e beijava, para depois acariciar outro corpo, e embora meus olhos se enchessem de lágrimas, eu não chorava. desejava poder voltar e sentir de novo, e de novo e de novo até que não soasse mais novo para mim, até que eu pudesse entender - se é que eu posso. deitada, era como se alguém estivesse me abraçando e de olhos fechados, eu realmente sentia a presença de alguém, eu? aquele lugar foi a minha casa por alguns minutos, os ponteiros não significavam nada, o tique taque não significa nada. se eu tenho que ir embora, eu posso voltar. nunca compreendi bem porque sempre considerei o mar o meu lar e o meu quarto a minha prisão, quando eu sequer posso encostar os meus pés. eu pensei, enquanto não conseguia manter meus olhos abertos, eu pensei: e se eu for realmente capaz de fazer isso? e então eu estava fazendo, sem ter a menor consciência, como um filme, como a minha vida. se eu soubesse a paz que me traria, eu não teria tido tanta preguiça de levantar da cama por 22 anos, e quando eu olho pra trás e eu lembro das coisas que eu perdi por medo de me encarar, eu quero dizer que eu sou covarde, e então bater no meu ombro e me consolar, porque eu fui muito mais corajosa do que eu pensei que eu pudesse ser. e se a hora é agora, que culpa eu tenho de não ter sido feliz antes? a imensidão azul me traz a vulnerabilidade que eu neguei sentir a vida toda, como quando Bukowski disse que havia um pássaro azul em seu coração, há um no meu. e eu também não choro, embora tenha o deixado sair em alguns momentos e talvez suas asas tenham quebrado, i don't weep.

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